4 de dez. de 2016

Mudando de vida

Mudanças significam sair da zona de conforto.
O que nao é nada confortável.
Deixar sua rotina, vida, amigos, família, trabalho, enfim toda a sua vida para trás,
atrás de uma nova vida.
No meu caso, simplesmente nao me via mais vivendo a minha vida confortável em São Paulo, quando  me dei conta que nada mudaria, que as questões pelas quais me fizeram mudar do país não
seriam resolvidas em 20/30 anos, por mais que lutei, me manifestei, argumentei, até me dar conta que quem tinha que mudar era eu e não o país.
A mudança foi feita e muita coisa de fato mudou.
Minha saúde sobretudo.
Sei que encontrei uma paz que jamais alcançaria em São Paulo.
Abro a janela do meu quarto e vejo o horizonte, montanhas, árvores, percebo a mudança das estações, respiro um ar fresco, limpido, como a vida deve ser.
Muita gente me pergunta quem faz as rotinas caseiras de casa, aqui é outra vida, tem quem faça, mas custa e se no Brasil trabalhamos para pagar quem faça aqui é diferente, eu mesma lavo minha roupa, coloco a mesa, preparo minhas refeições, lavo minha louça.
Trabalho no meu jardim, tenho a ajuda do Romeu, meu fiel jardineiro, mas sobretudo eu faço, pois o prazer de ver o resultado compensa o trabalho.
Por vezes me vejo arrancando as ervas daninhas ou catando as folhas caídas dos carvalhos.... trabalho de carcerário, mas penso...melhor que estar parada no trânsito.......
E assim os dias se passam na Umbria, protegida pela tradição italiana, pelos costumes de cada um fazer sua horta, sua geléia, seu molho de tomate, são menos informatizados? Sim são. Ainda bem. Isso os protege da globalização. Isso torna a Itália um país fascinante para quem o visita.
A cada dia descubro coisas novas. Isso nao teria vivendo na zona de conforto. Mudar exige muita força. Mas apreciar a novidade que a vida nos apresenta é muito mais prazeiroso.
Acomodar é a morte ao vivo!



29 de out. de 2016

Pelas caminhadas

Sempre saio com o Tartufo para caminhar, está habituado a correr pelos campos aqui no entorno de casa sem coleira, me dá tanto prazer vê-lo solto e livre.

Hoje, encontramos uma lebre, ele saiu atrás dela saltando, pareciam na realidade duas lebres saltitantes, cena de fábula: A lebre e o Tartufo.

Com as chuvas e altas temperaturas para a época pipocam por todas as partes cogumelos  ( funghi) de todos os tamanhos, cores, espécies, os experts vivem aqui na zona para procurá-los, é uma arte, pois tem que conhecer qual se presta a comer e quais são venenosos.
Os que mais me impressionam são os vermelhos com pintinhas brancas, achava que era coisa de livro infantil, mas existem de verdade!!!
Muito bom poder perceber as coisas da natureza.

O mato alto do verão começa a baixar e vai dando acesso às trilhas que não podia percorrer, há trechos com muitas poças e eis, que um dia levei um escorregão, caí, bati o ombro numa pedra e fiquei estatelada no chão coberta de lama, Tartufo me olhava como quem diz: E agora o que faço para te ajudar.... Levantei-me devagar, vi que não tinha nada torcido,  nada cortado e voltei para casa toda cautelosa com cada passo dado.
Acho que preciso andar com uma bengala, tanta gente anda assim por aqui....



27 de out. de 2016

Depois do Terremoto

Ontem fui dormir com um misto de medo e respeito pela força da natureza, sentir a terra se mover é uma sensação de impotência diante de algo muito grande ao qual não temos controle e, vemos como somos insignificantes, nossa passagem pela terra, por essa vida breve que, tem que ser vivida no seu máximo a cada dia.
Mas percebi que algo mexeu dentro de mim também.

Desde que me mudei para a Itália estou mais perto da natureza, vim buscar minha essência, que estava totalmente perdida na cidade grande, essa passou a ser a minha rotina:

Ao abrir os olhos a cada manhã me espreguiço lentamente acordando cada músculo do corpo, aprendi esse ritual com os meus dois gatos, Barolo e Chablis, levanto-me abro a janela e agradeço todos os dias ao ver o horizonte, montanhas verdes do parque estadual do Rio Tibre diante de mim, esse é um dos pontos altos do meu dia. 
Um simples abrir de uma janela.

Troco-me, arrumo a cama, faço meu rabo-de-cavalo ou coque e desço as escadas para tomar meu café da manhã, Tartufo sempre à espreita esperando me ver e esboço meu sorriso, muitas vezes ele está brincando com a Chablis ou Barolo e fico vendo aquela dança de amor como irmãos, outro ponto alto do dia.
Cumprimento todos, dou-lhes água e a comida e depois faço o meu café, com mesa posta e sempre uma flor recém-colhida do jardim.

E assim, se reinicia minha jornada de afazeres simples, domésticos que tenho prazer em fazer.
O jardim tornou-se minha paixão, deixá-lo em ordem requer muito trabalho mas o prazer de ver o resultado, as flores e tomando a sua forma é bem maior.

Outra paixão inusitada: Varrer a pérgola e o entorno da casa e agora no outono puxar com o rastrelo as folhas que caem incessantemente. Ambos requerem uma ordem, é uma ação repetida e contínua, mas tem uma resultado apaziguador ao fazê-lo dentro de mim.
Nao deixo um dia a vassoura de lado e acredite é outro ponto alto do meu dia.

Fico alguns dias sem sair de casa, acumulo funções como supermercado, banco, compra de material para manutenção da casa, lavanderia, abastecer o carro para uma única saída e faço tudo muito rapidamente, pois a cidade é pequena, nao tem trânsito, as pessoas me conhecem, me cumprimentam, me convidam para um café, tudo com tempo, sem pressa. 

Mas voltando ao terremoto e, às perguntas frequentes que recebo de como vim parar aqui saindo de São Paulo e vir morar isolada no interior da Umbria, minha resposta ainda abalada por ontem:

Minha vida precisava de ajustes, como as placas tectônicas se acomodam para buscar uma posição melhor, mais ajustada, tal como os Terremotos que são gerados pelos movimentos naturais das placas tectônicas da Terra, que causam ajustes na crosta terrestre, afetando a organização inicial, que eu chamo de zona de conforto. Todos temos dificuldade de sair dela, pois causa danos, sofrimento, mas depois o resultado é melhor.

Pensando bem o medo físico que senti ontem abalou minhas emoções mais uma vez.

Ah! Sou eu quem lavo minha roupa, confesso que não passo todas e, coloco os panos de prato para quarar no sol....